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terça-feira, 18 de outubro de 2011

OS VAGALUMES DO AURÁ


Égua já to atrasada, o patrikinho vai me matar, mas vou falar a verdade para ele eu não sei como eu perdi a lanterna dele, meu medo foi maior, se o safado do Zezinho me encontrasse debaixo da cama da minha irmã ele ia consegui o que ele ta tentando há duas semanas.

- Ei Patrikinho o carro já chegou?
- Porra Janaina ainda não cadê a minha lanterna?
- Poxa cara não vou te mentir eu perdi ela, eu acho que ela caiu de baixo da minha casa
- Eu não quero nem saber Janaina, vou ficar com a sua!
- Cadê o Curubinha lá vem ele, junto com o carro, é hoje é plantão do seu João.

Eu já tenho 13 anos de idade e cato lixo aqui no lixão do Aurá desde os 5 anos, antes eu vinha com a minha mãe e minha irmã mais velha a Judite, mas ela não vem mais pois   agora ela está grávida, e meu irmão Roberto que morreu ano passado com umas tretas com a galera do GDA a Galera Do Aura. Minhas roupas são de doação que a mãe recebe, todos meus brinquedos foram montados com pernas e braços de bonecas velhas que pego aqui no lixão.

- Ei Jana ta pensando em quê? Sobe logo no carro.
- E ai seu João tem coisas boas hoje ai pra nos!
- Calma Curubinha deve ter.
- Mas se segura ai moleque se tu cair desse carro de lixo, a merda vai cair para cima de mim.
- Não esquenta seu João já estamos acostumados.

Seu João era bacana com nos ele já trabalha no carro do lixo a mais de 30 anos, ele viu agente crescer ele era amigo da minha mãe quando ela era pequena e vinha aqui com minha avó, foi ele que comprou as nossas lanternas, porque quando vínhamos para cá sem elas os caras não deixávamos nos catar o lixo, hoje tem muita gente aqui mas só encontra algo bom, que tem lanterna costuradas no chapel.

- Ei Janaina eu achei uns pacotes de bolachas, saiu da validade na segunda, mas ta bom.
- Porra Curubinha ainda não achei nada, minha mãe vai me matar.
- Ei Jana cadê o Patrikinho?
- Ele já tá lá com a galera do GDA
- Porra o Patrikinho ainda vai acabar se fudendo com essa porra de fumar pasta.
Eu o Curubinha e o Patrikinho somos amigos desde pequeno, crescemos aqui no Aurá propriamente aqui no lixão, o Curubinha mora na casa da tia dele que também cata lixo aqui, mas só que pela parte do dia, já o Patrikinho mora com sua mãe, seu pai morreu na mão dos pelas sacos da policia por causa do trafico e assaltos aqui no Aura, nos somos muitos unidos, mas acho que to perdendo meu amigo Patrikinho para as drogas.

- Ei Patrikinho onde tu tava Mané?
- Porra Janaina tu se mete muito na minha vida
- Tu pareces à puta da minha mãe
- Não fala assim de dona Roberta rapaz
- E eu to sabendo ela anda saindo com um pela saco da PM
-Mas eu já dei a letra pro Drack
- E por causa disso ele me disse que eu vou entrar para a GDA

Drack e o cara que comanda o trafico de drogas aqui na área, ele era parceiro do pai de Patrikinho, mas dizem que ele era muito apaixonado pela mãe do Patrikinho. Tenho medo que ele possa fazer alguma coisa com a dona Roberta, ter amizade aqui com policia e problema.

- Ei Janaina já vai dar 3 horas da madrugada eu vou embora.
- Poxa Curubinha to com medo de ir para casa.
- Porque Jana?
- Não posso falar agora, mas vou dar meu jeito.

Não posso falar a verdade pro Curubinha, não posso dizer para ele que meu padastro está tentando abusar de mim, o pior que a mamãe doente com tá, ela não vai poder fazer nada, minha irmã também, pois estás grávida dele, e tem medo principalmente agora que ele e chegado do Drack e entrou para GDA. Tenho que pensar em algo, hoje é sexta feira e ele ta bebendo no bar do cabeção.

- Ei Curubinha você me deixa dormir na tua casa!
- Porque Jana? Você tem voltar para sua casa, o que eu vou falar para titia?
- Ela não vai saber eu fico escondida e assim que você entrar eu vou atrás.
- Porra Jana minha rede ta toda furada nem da pra mim, mas tudo bem hoje vou te dar uma forra
- Obrigada Curubinha você praticamente ta salvando minha vida.

Naquela noite eu dormi na casa do Curubinha, nos dormimos juntos, mas quando estava amanhecendo ele foi dormi num sofá velho na varanda, só para mim deixar mais à-vontade. Quando acordei encontrei a tia dele dona Santa, Ela só me olhou e pediu para eu sentar que ela tinha uma noticia para mim dar. Fiquei com medo, mas a cada palavra dela subiu um alivio, uma vontade de chorar, e abraçar o Curubinha, minha lagrimas era de felicidade e alivio o Curubinha pensava que eu tava chorando de tristeza, mas só eu sabia que tava sentindo.

- Janaina quando eu fui comprar pão vi um tumulto na estrada do lixão, fui ver o que estava acontecendo, tinha vários policias, eles encontraram o corpo de seu padastro com 4 tiros na cabeça, me falaram que ele se desentendeu com o Drack, e  ele matou o matou

- Então vou para casa a mamãe ela vai precisar de mim.
Depois de levarem o corpo do safado do Zezinho para o IML, a irmã dele ia fazer o velório numa cidade do interior. Os dias se passaram, minha mãe continuou na dela, minha mãe com problemas nas costas quase não sair de casa, minha irmã voltou a sorrir de novo, ela esta namorndo um rapaz que trabalha numa loja e ajudar ela, ele pensar que o filho é dele. O Patrikinho fica mais com a Galera Do Aurá, que dá uma de ladrão agora não vai, mas ao lixão, eu e o Curubinha continuamos indo no lixão do Aurá, mas agora só uma vez na semana, estamos indo para uma ONG, aqui perto de casa, que estou fazendo umas oficinas de teatro e de dança, o Curubinha aqui e conhecido como Edson seu nome verdadeiro ele ta fazendo uma oficina de literatura e de grafite, e de vez enquanto ele me da uns beijos eu gosto dele eu acho que quando eu crescer vou casar com ele.

Esse conto foi por produzidos em uma oficina de produção literária no bairro do Aurá no ano de 2009 - local onde serve de lixão da cidade de Belém área metropolitana por dois adolescentes: Julia Lima Silva, 13 anos e Augusto Andre Santos de 13 anos e adaptado pelo Arte Educador Preto Michel.

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