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segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

"Aniversário de Belém: 396 anos de quê?


Nesse dia 12 de janeiro, em 1616, Francisco Caldeira Castelo Branco fundou o Forte do Presépio, fortaleza que marca o início do domínio português sobre estas terras, com o objetivo de garantir a soberania portuguesa sobre a foz do rio Amazonas. O interesse português era pela exploração da floresta, pela busca insaciável das valiosas drogas da mata, às quais se somaram a borracha, e hoje, o minério. E para isso, rios de sangue e suor, o sacrifício da população local. Data que passa despercebida, mas muito mais importante e cheia de lições para nós, é o dia 7 de janeiro de 1835, dia em que, vindos do Murucutu, os cabanos tomaram de assalto a cidade, revoltosos com sua situação de miséria e exploração.

O que se tem para comemorar então neste dia 12?

Hoje, no ano de 2012, não há muito que comemorar por estas bandas. Jovens são chacinados diariamente, seja na mão da polícia, seja em conflitos locais. Metade da população da cidade não tem condições adequadas de moradia. A falta de perspectiva assola a juventude consciente, que não deseja sacrificar seu futuro para ser explorada pelos poderosos. Escolas estão em pé de guerra, enquanto professores recebem mal e o ambiente pedagógico não existe. Então, porque festa? Quem estaria comemorando o aniversário da cidade? Quem tem para comemorar é quem está pagando a festa! A construtora Andrade & Gutierrez, a mesma que faz parte dos consórcios construtores de Belo Monte e outras barragens, que ganhou licitação duvidosa para projeto de BRT em Belém, que financia a campanha eleitoral de Dilma, e através de todos esses empreendimentos, só traz mais miséria para a nossa população sob o argumento do “progresso”, estará pagando o cachê de ninguém menos que Ivete Sangalo para uma grande festa, nos moldes do mais clássico “pão e circo”, na Aldeia Cabana, no dia 11, à noite. E assim se completa o seu insulto para com a população. São R$ 1,5 mi para trazer uma cantora que fará uma festa publicitária para a população de Belém, que carece muito mais da aplicação desse valor na satisfação das condições básicas de moradia e serviços públicos. Lembremos que a mesma Andrade & Gutierrez foi a que, enquanto participante do CCBM, não cumpriu as condicionantes que exigiam a construção de dois hospitais e escolas em Altamira e Vitória do Xingu. Nesse clima de indignação e revolta, convidamos todos os movimentos da capital, políticos ou não, a construirmos juntos um contra-evento, auto-gestionado, aonde cada movimento venha contribuir com a atividade que puder (seja oficina, apresentação, workshop). Assim, enquanto na Aldeia Cabana se comemora 396 anos de exploração, comemoraremos um espaço livre de convergência política, artística e cultural na Praça de São Braz.

Texto : Rodrigo Silva

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